segunda-feira, abril 19, 2010

Pesadelo em peluche. Entrevista a Adolfo Luxúria Canibal (Mão Morta)





Tenho aqui uma entrevista a Adolfo Luxúria Canibal, vocalista de Mão Morta, feita p'lo meu amigo, co-criador e antigo colaborador do Sociedades Alternativas, Wolf.
Feita a propósito do novo disco da banda, que saiu hoje para as lojas.
Eu já o ouvi de ponta a ponta e é grandioso como os Mão Morta nos habituaram.
A entrevista está aqui no blog assim meio que..."roubada", mas visto que sou quase membro honorário dos Portugallica(lol) tomei a liberdade de a fanar.
Não se esqueçam de visitar o site caso sejam fãs de Metallica.
http://www.portugallica.com/


Aqui vai:

O novo disco "Pesadelos em Peluche" realça a influência que o mundo exterior tem no indivíduo. Segundo a tua percepção, num mundo actual onde são cada vez mais as notícias negras e pesadas, o ser humano fica incapacitado de sentir desconforto, dada a habitual exposição às mesmas?

A questão não está tanto na incapacidade de sentir desconforto, embora também tenha aí reflexos, mas na nova percepção do real que um meio ambiente altamente tecnológico e mediatizado pode criar no indivíduo. Por exemplo, até que ponto a morte de uma celebridade como a Princesa Diana, com quem nunca nos cruzamos, a quem nunca vimos, a quem nunca dissemos bom-dia, nos afecta mais que a morte do vizinho a quem dizemos todos os dias bom-dia e boa-tarde, com quem partilhamos inúmeras vezes o elevador, com quem amiúde compartilhamos um café rápido ao balcão da pastelaria da esquina? Ou até que ponto a transformação de gadgets quotidianos, como o automóvel, em objectos de desejo, nos induz a novos fetiches sexuais? Mais do que dar respostas, “Pesadelo em Peluche” tenta levantar questões, pela encenação de situações limite e, no entanto, bem comuns.

Pegando ainda no título do álbum e na sua dualidade, é mais usado para descrever pesadelos que passaram a ser tranquilizantes, confortos que se tornaram em pesadelos, ou ambas?

O título do disco tenta traduzir a sensação de pesadelo, de absurdo, que é o nosso quotidiano altamente fofinho e leviano, se acaso paramos e olhamos para ele de frente e ao pormenor. Não há um antes e um depois, há uma simultaneidade. É como se de uma psicanálise se tratasse, em que depois de afastados os peluches que nos rodeiam e nos encobrem, depois de passarmos o estrato de consciente que nos protege, encontrássemos as camadas mais profundas do ser, o seu inconsciente, e nos déssemos conta dos monstros que aí se escondem, dos medos e pesadelos que nos orientam os passos.

Disseste que este trabalho foi influenciado por J. G. Ballard e o seu livro "A Feira de Atrocidades". Tal influência surgiu naturalmente durante a composição do disco ou foi algo que já querias fazer há mais tempo?

Não foi algo que estivesse pensado ou desejado, embora eu já tivesse pegado em Ballard no meu trabalho com Mécanosphère. Também não foi algo que surgiu durante a composição do disco, porque todo o disco já foi composto em função do “The Atrocity Exhibition”. Simplesmente, quando decidimos avançar para um disco novo, e ainda na fase de assentar uma direcção temática para o mesmo, o Ballard surgiu em conversa, um pouco por acaso, e achamos que era uma boa ideia laborarmos sobre ele porque ia ao encontro da nossa vontade de compormos canções curtas e cruas. O centrar desse labor no “The Atrocity Exhibition” é uma opção posterior, depois de pesquisarmos melhor a sua obra já com o objectivo da sua utilização como base de orientação para o álbum.

Referiste, ainda na fase de gravação do álbum, que as canções seriam curtas e marcariam o regresso dos Mão Morta ao Rock. Apesar dos temas abordados pela banda nunca serem levianos e de fácil digestão, na tua opinião, seria necessário a música ser crua e dura para transmitir melhor o sentimento das letras?

A vontade de fazer temas curtos e assumidamente crus surgiu como reacção interna ao “Maldoror”. Depois de passarmos mais de quatro anos a trabalhar, quer na composição quer na execução, temas longos e mais centrados em dinâmicas ambientais sentíamos necessidade de voltar ao básico, ao visceral. As letras foram feitas posteriormente, já com os esqueletos dos temas compostos.

Fernando Ribeiro dos Moonspell, participa em "Como um Vampiro". Anteriormente já tinhas colaborado com os Moonspell no álbum "Darkness And Hope" e o Fernando já referiu muitas vezes que para ele a melhor banda portuguesa são os Mão Morta. Pensam voltar a trabalhar juntos?

A colaboração com o Fernando Ribeiro não foi algo programado, simplesmente achamos, depois de composto e escrito o “Como Um Vampiro”, que a sua voz iria bem com o tema. Assim, convidámo-lo e ele aceitou. Se no futuro houver outros temas que consideremos que terão algo a ganhar com a utilização do Fernando (ou qualquer outro nome pelo qual tenhamos simpatia ou afinidade), convidá-lo-emos de novo. Mas não há, à partida, qualquer projecto de colaboração continuada.

Depois da digressão "Maldoror", que planos tem a banda para apresentar este disco ao vivo? Estão a preparar algo especial para o concerto de 29 de Abril no Coliseu dos Recreios em Lisboa?

A ideia é que o concerto do Coliseu, no dia 29 de Abril, seja o início de uma digressão nacional e nesse sentido temos A Chave do Som, a nossa agência, a calendarizar os espectáculos. Para já, sabemos que dia 2 de Maio temos concerto em Faro. Depois, veremos… Quanto ao concerto do Coliseu, vamos tocar os novos temas do disco, bem como outros do nosso repertório clássico, e vamos estrear um novo cenário, com um desenho de luz especialmente pensado para o efeito. Mas será sobretudo um concerto de rock.


O primeiro single (não se deixem enganar...esta é a música mais leve do album) :



meh...uma das minhas piores :S

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